EnANPAD 2011

Trabalhos apresentados


O TRABALHADOR MÉDICO: PRAZER E DOR COMO OFÍCIO


Informações

Código: GPR1767
Divisão: GPR - Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho
Tema de Interesse: Tema 06 - Prazer e Sofrimento no Trabalho

Autores

José Humberto Viana Lima Júnior, Anderson Lopes Belli Castanha

Resumo

O artigo, baseado nas premissas teóricas sobre relações de trabalho, em especial de algumasvariáveis que integram a categoria microssocial – organização do trabalho e condições detrabalho aliadas às contribuições da Escola Dejouriana, que analisa os temas do prazer e dosofrimento vinculados ao trabalho – procura revelar o processo de desgaste/prazer no trabalhodentro de hospitais público e privado, originado através dos discursos dos trabalhadoresmédicos ali atuantes. Observa-se, ainda, que o mundo da medicina conheceu mutaçõesprofundas e rápidas nos últimos anos, impactando sobremaneira na formação e no exercícioprofissional do médico. Esse grupo profissional sempre gozou de status e prestígio, estandocondenado no contexto atual à perda de identidade, autonomia profissional, assalariamento emercantilização, aliados à contestação e julgamento da comunidade no que concerne ao atomédico. Apreende-se pelos discursos fecundos as vivências, as tramas, as defesas, os medos,as dores e as inseguranças concernentes ao exercício da profissão, à relação médico-paciente,ao tratamento recomendado e o contato com a morte. O objetivo geral do estudo refere-se àpercepção, na visão dos médicos trabalhadores de dois hospitais (um público e um privado),dos fatores que têm implicações nos sentimentos de prazer e desgaste no trabalho, explorandoa interface entre organização e condições de trabalho, desgaste/prazer frente ao paradoxo dotrabalho hospitalar concernente ao resgate da vida e assimilação da morte. A pesquisa baseouseem uma amostra intencional de médicos que atuam em unidades de atenção direta aopaciente, exercendo suas atividades em diferentes unidades de internação e em turnosdistintos. Foram entrevistados um total de 40 médicos, sendo 20 médicos em um HospitalUniversitário e 20 médicos em um hospital privado de alta complexidade. As abordagensintencionaram identificar aspectos que contribuem para o sofrimento criativo e patogênico,inerentes à: valorização da profissão perante a sociedade; o trabalho médico em sua essência;a relação médico-paciente sob julgamento; e o contato com a morte. Em um contexto maisamplo, os entrevistados consideram o trabalho que desenvolvem nos hospitais estudados, nãoapenas fonte de sofrimento, violência física e psicológica, mas também uma forma de prazerque dá significado e motivação à vida. Nesse sentido recupera-se a equação sofrimentopatogênico/sofrimento criativo de Dejours, demonstrando que o trabalho não é semprepatogênico, ele tem ao contrário, um poder estruturante, em face tanto da saúde mental comoda saúde física. Na pesquisa apresentada, o sofrimento adquire um sentido – o prazer notrabalho é um produto derivado do sofrimento. Tal conclusão fundamenta-se na EscolaDejouriana, pela observação de que, se por um lado os trabalhadores empenham-se em lutarcontra o sofrimento, por outro não buscam situações de trabalho isentas de sofrimentochegando até a detestá-las. Enfrentam sem hesitação, as adversidades das situações detrabalho.

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