EnANPAD 2011

Trabalhos apresentados


Relações de Trabalho em Empresas Terceirizadas sob a Ótica dos Trabalhadores: Um Estudo Multicasos no Setor de Mineração de Minas Gerais


Informações

Código: GPR2583
Divisão: GPR - Gestão de Pessoas e Relações de Trabalho
Tema de Interesse: Tema 04 - Mudanças e Permanências nas Relações de Trabalho

Autores

Luiz Alex Silva Saraiva, Kary Emanuelle Reis Coimbra, Jacqueline Aparecida Ferreira

Resumo

As últimas décadas têm demonstrado que o avanço do capitalismo tem sido parcialmenteconseguido às custas de um movimento generalizado de precarização do trabalho, em que sedestaca a terceirização, objeto desse trabalho. Nesse trabalho se pretende caracterizar asrelações de trabalho em empresas terceirizadas sob a ótica dos trabalhadores que nelas atuamconsiderando as quatro instâncias clássicas propostas por Dunlop (1958): organização doprocesso de trabalho, a gestão da força de trabalho, as condições de trabalho e saúde dotrabalhador e o processo de regulação de conflitos. Foi executada uma pesquisa qualitativa,tendo sido levado a cabo um estudo multicasos, com empresas contratadas de formaterceirizada por uma mineradora de grande porte atuante em Minas Gerais. Os sujeitos dapesquisa foram selecionados em função de apresentarem ter experiência como empregadoterceirizado em qualquer empresa há pelo menos dois anos; e estarem trabalhando numa dasempresas terceirizadas selecionadas há pelo menos um ano, para que, tendo maiorexperiência, possa relatar suas relações de trabalho. No total, foram entrevistados 10trabalhadores. A coleta de dados foi feita mediante entrevistas semi-estruturadas, tendo omaterial sido tratado por meio da análise do discurso na vertente francesa, mediante análiselexical. Os principais resultados da pesquisa sugerem que com relação à instância daorganização do processo de trabalho, a remuneração traduz a precariedade das relações detrabalho, o que é confirmado pelo ritmo particularmente intenso de atuação, agravado pelasdemandas da multifuncionalidade. A instância da gestão da força de trabalho mostra umaavaliação de desempenho que não cumpre o seu papel de promover a meritocracia, o que geraproblemas de satisfação dos terceirizados com a organização, em particular com osrelacionamentos distantes que mantém com seus superiores hierárquicos, com a ficção doplanejamento de carreira, e com as diferenças de remuneração, que ocorrem mesmo entreprofissionais que executam tarefas semelhantes. Quanto às condições de trabalho e saúde dotrabalhador, a comissão interna de prevenção de acidentes não cumpre seu papel, a higiene doambiente de trabalho é precária, e as empresas quanto aos equipamentos de proteçãoindividual, omissas. No que se refere aos processos de regulação de conflitos, os sindicatosdizem pouco como ator institucional, o que ocorre em um contexto de tolhimento quanto àexpressão de divergências com os superiores hierárquicos. As principais contribuições dessetrabalho dizem respeito à necessidade de serem examinados com atenção modelospretensamente neutros de análise organizacional, como o esquema clássico das relações detrabalho de Dunlop (1958), e a emergência de um tipo de organização – a empresaterceirizada – que sobrevive às custas de exploração da miséria do mundo, no sentido deBourdieu (2003). A empreitada é longa e árdua, mas se inicia pela rejeição de qualquernaturalização, conforme Bauman (1999, p. 82), de que “as riquezas são globais, a miséria élocal – mas não há ligação causal entre elas, pelo menos não no espetáculo dos alimentados edos que alimentam”.

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