EnANPAD 2011

Trabalhos apresentados


Mulheres e Patriarcado: Dependência e Submissão nas Casas de Farinha do Agreste Alagoano


Informações

Código: EOR1463
Divisão: EOR - Estudos Organizacionais
Tema de Interesse: Tema 07 - Gênero e Diversidade

Autores

Milka Alves Correia Barbosa, Fátima Regina Ney Matos, Ana Paula Ferreira dos Santos, Ana Márcia Batista Almeida

Resumo

A sociedade brasileira vem passando por significativas transformações econômicas, sociais edemográficas nas últimas duas décadas; dentre elas o aumento acentuado da participaçãofeminina no mercado de trabalho. Mas conforme Chauí (1989), apesar da desintegração dopatriarcado rural, a mentalidade patriarcal permaneceu na vida e na política brasileira, pelasvias do coronelismo, do clientelismo e do protecionismo. Este estudo procurou analisar osaspectos do trabalho das mulheres nas casas de farinha do Agreste Alagoano que aindareproduzem o padrão de dominação do patriarcado tradicional brasileiro. O patriarcadocaracteriza-se pela influência que exerce na organização social do Brasil desde a época dacolonização até os dias atuais. O quadro teórico desta pesquisa constitui-se dos temas: divisãodo trabalho sexual, divisão sexual do trabalho e patriarcado. O presente estudo adota umaperspectiva predominantemente qualitativa e foi feito um estudo de caso, delimitado peloconjunto de casas de farinha localizadas no agreste alagoano. Os dados foram coletados pormeio de entrevistas semi-estruturadas, observação direta e análise documental. Pode-seafirmar que vários aspectos do trabalho das mulheres nas casas de farinha do AgresteAlagoano ainda reproduzem o padrão de dominação do patriarcado tradicional brasileiro. Osdados coletados mostraram que nesse mesmo ambiente a divisão sexual do trabalho é aceita enaturalizada como resultado de diferenças físicas entre homens e mulheres. Assim sendo,aparentemente dever-se-ia aceitar de pronto que nas casas de farinha estudadas o gênerofigura como variável binária apoiada na diferença sexual entre homens e mulheres, e comotal, a partir de uma visão estática, esse padrão de divisão do trabalho dificilmente mudaria.Entretanto, analisando essa realidade a partir de uma perspectiva histórico-social, vê-se queessa divisão sexual do trabalho aproxima-se do binômio exploração-dominação descrito porSaffioti (2008), que vincula a dominação masculina aos sistemas capitalista e racista. A duplajornada de trabalho (casa de farinha e trabalho doméstico), a baixa remuneração, as condiçõesprecarizadas de trabalho, o respeito e a lealdade à autoridade do dono da casa de farinha –como provedor de salário, comida, trabalho -, são algumas das condições que alimentam aexploração sob as quais as trabalhadoras estão submetidas. A despeito de programas einiciativas, como a criação do APL de Mandioca, a realidade social das trabalhadoras dascasas de farinha reporta-se ao que Spivak (1988) denomina dupla colonização: o fato deserem mulheres e nascidas numa ex-colônia; e ao que Rosa e Medeiros (2010) apontam comodupla forma de opressão que as mulheres do terceiro mundo sofrem: a primeira relacionada aopatriarcalismo e a segunda relacionada ao colonialismo. Como contribuição tentou-se ilustrara presença a dominação patriarcal na divisão do trabalho das casas de farinha do AgresteAlagoano. De fato, talvez essa realidade não seja exclusiva deste grupo. Assim, como direçãopara futuras pesquisas sinaliza-se analisar outros ambientes organizacionais.

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