EnANPAD 2011

Trabalhos apresentados


Entre "Maria" e "Eva": as representações sociais de executivas sobre a profissão


Informações

Código: EOR1238
Divisão: EOR - Estudos Organizacionais
Tema de Interesse: Tema 07 - Gênero e Diversidade

Autores

Ana Paula Rodrigues Diniz, Alfredo Rodrigues Leite da Silva, Raquel Santos Soares Menezes

Resumo

Neste artigo, objetivamos compreender as representações sociais construídas por executivassobre sua profissão. Baseados em Moscovici (2003), Jodelet (2001), Liu (2003), entre outros,afirmamos que as representações sociais constituem formas de conhecimento, elaboradas ecompartilhadas socialmente, que fundamentam as práticas dos sujeitos e contribuem para aconstrução da realidade social. A constituição desses conhecimentos se dá por meio demecanismos de ancoragem e objetivação, associados à construção de thematas e gêneroscomunicativos. Estes conceitos, inter-relacionados, viabilizaram a compreensão dasrepresentações em seu caráter dialógico e das faces hegemônica, emancipada e polêmica queas compõem, acessando as continuidades e disputas envolvidas nessa construção (LIU, 2003).Para a apreciação das representações, consideramos o contexto de dominação masculina noqual se desenvolvem (MATOS, 1997). Amparados em Pateman (1993), discutimos que talestado está atrelado ao contrato sexual, o qual marca a cisão entre espaços público e privado,colocando o primeiro como o lugar da cultura e dos homens, e o segundo, da natureza e dasmulheres. Esta divisão, na modernidade, coloca “a mulher” como uma categoria atemporal ebiológica, dotada de um corpo materno e sexualizado, subsidiando o entendimento de que seucampo próprio é a família. Os caminhos metodológicos percorridos envolveram a realizaçãode uma pesquisa qualitativa, cuja estratégia de pesquisa foi o método biográfico. Olevantamento dos dados se deu por meio da coleta das trajetórias de vida, com a realização de64 entrevistas com executivas residentes em sete capitais brasileiras, as quais foramanalisadas com o emprego Análise do Discurso (BAKHTIN, 1986a). Por meio da análise dosrelatos, observamos a construção da representação social da profissão da executiva como umimbricamento entre “Maria” e “Eva”, a qual está relacionada à themata composta pela díademulher-mãe/ mulher-pecado. Essa representação apresenta faces emancipadas quanto àvalorização e a desvalorização da sensibilidade no trabalho das executivas, e faces polêmicasquanto a valorização, até certo limite, do uso da sensualidade ou sua eliminação. Avalorização e desvalorização da sensibilidade e da sedução com limites se deram em termosda instrumentalização desses atributos para o trabalho das executivas, contribuindo ou nãopara o desempenho e alcance dos objetivos pessoais e organizacionais, ao passo que aeliminação da sedução relacionou-se com sua incoerência com o ethos da profissão executiva.Com base em Smith (2003), ressaltamos que a representação depreendida reproduz no campoprofissional a ambiguidade associada à feminilidade, nascida na esfera da religião, na qual amulher é “boa moça ou devassa”. Acrescentamos que esta remete a construções vinculadas aocontrato sexual, as quais, em sua face hegemônica, subsidiam a privação da mulher ao espaçopúblico. Observamos, contudo, que tal representação procede, ao mesmo tempo,transformações nesses estereótipos, especialmente, por meio da instrumentalização dasfeminilidades e da defesa da valorização e manutenção das mulheres nas organizações.

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